O QUE É SER NORMAL?

Vira e mexe me deparo com essa pergunta no meu consultório: “ E aí, sou normal?’

Se procurarmos no dicionário vamos ver que a definição de normalidade é:” 1- conforme a norma; a regra; regular. 2- que é usual, comum, natural.”

Quando se trata de serem humanos, será que existe realmente um modo certo de ser?

O que observo na prática é que o ser humano é bastante complexo e costuma escapar a tentativas de definições fechadas e limitadoras e, que na maioria das vezes, acaba sendo considerado normal quem está mais adaptado com o padrão imposto pela sociedade vigente.

Então você pode ser considerado normal em uma cultura e não ser considerado assim em outra.

Aliás, grandes pensadores foram considerados “anormais” dentro de uma época específica, me parece que essa é uma característica de muitas figuras revolucionárias, serem “anormais” de uma época, trazendo consigo grandes feitos e mudanças sociais, científicas ou tecnológicas.

Mas, acredito que quando meu cliente me faz essa pergunta ele se refere ao aspecto de saúde mental, ele quer saber basicamente se ele não está “maluco”. Acredito eu, que ele pense isso em decorrência da própria existência e dos sofrimentos aos quais nos deparamos, que deixam a vida bem difícil, nosso emocional despedaçado em alguns momentos e podem gerar uma sensação de perda de controle de si mesmo.

Sendo assim, eu lhe respondo que essa “normalidade” que ele almeja (se é que isso realmente existe) só pode ser concebida na prática dentro da concepção de estar adaptado ou não com a sociedade ao qual está inserido. Podendo ser interpretado como viver de acordo com o que acredita e agir de modo que funcione na vida.

Como assim funcionar na vida?

De acordo com cada etapa da vida humana, temos tarefas a cumprir: escola, escolha da profissão, faculdade, encontrar um trabalho, pagar as contas e em todas elas, existe o relacionar-se com os demais permeando o processo. Pode-se dizer que isso é o esperado, o que está dentro da regra, logo o “normal”.

Veja bem, é natural que durante a vida as pessoas passem por dificuldades nessas etapas, mas se a dificuldade for o que mais acontece ao ponto de que não se consiga mais exercer umas dessas etapas ou se relacionar com os demais durante longo período de tempo, pode-se dizer que tem algo que não está funcionando bem, por isso dá margem a interpretação de que se está fora do normal e merece maior cuidado e observação. Para tal, avalie se isso é decorrente de algum problema físico ou mental e procure algum especialista da área.

Voltando ao ponto de que normalidade é viver da maneira que se acredita e funcionar bem, o psicólogo humanista Carl Roger diria que devemos viver em congruência, ou seja devemos viver de acordo com que consideramos ideal.

Para ele, se a nossa experiência de vida atual estiver em coerência com o que consideramos ser o ideal, estamos vivendo em congruência, do contrário estaremos incongruentes. É claro que viver em 100% de congruência é raro, mas se esta relação for mais aproximada do que afastada estaremos mais congruentes com o que acreditamos e, provavelmente menos insatisfeitos na vida.

Na abordagem Cognitivista, quando não vivemos de acordo com que realmente queremos, estaremos vivendo em Dissonância Cognitiva, o que irá exigir reavaliação de nossas atitudes, para decidir se precisamos mudar o que estamos fazendo ou mudar o que pensamos sobre o que estamos fazendo (reestruturação cognitiva).

Já Freud defendeu que todos os seres humanos são neuróticos por serem dotados de três instâncias psiquícas (Id- Ego-Superego) que estão sempre em conflito entre si. Ou seja, existe sempre uma briga dentro de nós entre o que desejamos fazer, o que achamos ideal fazer e o que achamos que vai ser bem aceito fazer por nós e pela sociedade.

Apesar de tantas explicações teóricas e tanta confusão dentro de nós, acredito que o mais importante na prática seja a reflexão: Será que estou vivendo minha vida baseada numa concepção integral de mim mesmo? Concepção que leve em consideração o meu desejo, as minhas potencialidades, as minhas possibilidades e o meu contexto de vida.

Eu não disse que seria fácil, mas não se pode negar que é no mínimo interessante e enriquecedor.

Segundo Jung, esse caminho em direção ao conhecimento da plenitude de si mesmo (individuação), engloba conhecermos nosso eu mais profundo, nossas personas (máscaras ou papéis que nos identificamos) e sombras (aquilo que não admiramos e podemos não reconhecer como nosso).

Às vezes, ser normal, é justamente questionar fora da regra e se perguntar honestamente: qual é o meu caminho? Não aquele que já foi “desenhado no chão” pela norma, nem aquele que é baseado na expectativa de outros, tampouco o que você cismou que deve ser e nem o que se identificou por pressa…

Esse caminho exige autoconhecimento e muita reflexão, mas o fruto será viver uma vida baseada numa maior plenitude de si mesmo (plenitude total me parece não ser alcançável).

Eu diria que essa será a sua verdadeira normalidade.

 

 

 

 

Através de quais lentes você tem olhado a vida?
20 de março de 2018

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